Simples Assim

 

 

Já ouvi muito a pergunta “como você consegue ouvir problemas o dia todo?”. Ouvi essa pergunta de pacientes que atendo, que já não atendo mais e de pessoas no geral e sempre tento explicar como, para mim, ser psicóloga (clínica, principalmente) não significa ouvir problemas o dia todo.   Toda vez que atendo um de vocês, estou dedicando minha escuta e meu olhar atento para tentar compreender suas dores e angústias e, dessa forma, tentar auxiliar de alguma maneira.  Toda vez que um de vocês conta uma coisa boa que aconteceu; alguma coisa que foi superada; alguma barreira que foi enfrentada, são os mesmos olhos atentos e escuta empática que está ali com vocês, compartilhando de suas conquistas.  Cada vez que vejo o rosto de vocês se iluminar por um insight, eu me sinto a melhor profissional do mundo, pois foi ali, comigo, naquele espaço sagrado da psicoterapia que, pude ajudá-lo a ver algo que antes não era possível.  E ao mesmo tempo comemoro internamente, [ainda h...

Nossa rotina mudou:  Abraço.  Beijo.  Toque.  Tomar uma gelada no bar.  Ir na casa do amigo.  Nos disseram que não era uma boa ideia.  Mais que isso, nos pediram, encarecidamente, pra ficarmos em casa.  Acompanhei notícias por dias.  Boletins que informavam números de infectados; suspeitos; mortos.  Acompanhei os comentários.  Acompanheis as dúvidas.  Cansei de tudo.  Consegui alguns dias de férias:  Do trabalho.  Da rotina de ser obrigada a sair de casa.  De ver amigos e colegas de trabalho sofrendo (por incontáveis razões) e não poder abraçá-los.  De ouvir dúvidas tão iguais as minhas e não saber sana-las.  De acompanhar notícias. E números.  10 dias se passaram.  Resolvi ver o que tinha acontecido e que eu não havia acompanhado: Quase 19 mil mortes em um país.  Mais de 13 mil em outro.  Muitos, mas muitos mais contami...

Há quase nove anos foi gravado um vídeo - brega, emocionado, enorme e repleto dos mais variados sentimentos que poderiam existir na cabeça de quatro meninas prestes a concluir o ensino médio -. O vídeo foi feito com algumas intenções e talvez a principal tenha sido a garantia de que essas garotas se lembrariam umas das outras. Se lembrariam da amizade construída através dos anos e de todas as experiências vividas e compartilhadas. E se este texto existe hoje é porque os medos contidos naquele vídeo foram superados e as dúvidas quanto à resistência dessa amizade frente as distâncias e ausências ficaram pelo caminho. Queria poder voltar no tempo e dizer àquelas garotas assustadas que o passar dos anos faria tão bem a elas. Que elas cresceriam, evoluiriam e se tornariam maravilhosas versões de si mesmas. Para a aquariana mais aquariana que tive a chance de conhecer eu diria que esses nove anos seriam incríveis, cheios de descobertas, amigos, amores, festas, notas boas, dois diplomas (!)...

Começou com um olhar. Um olhar rápido, mas com algum desejo e curiosidade. Comecei a deixar cartõezinhos fofos, mandar mensagens alegres/ emotivas/ consolador as/ românticas, dependendo do modo como me sentia no dia, e do modo como achava que aquele gesto seria recebido. A verdade é que, no início, fui ignorada com sucesso! Desisti um par de vezes. Mas voltei a insistir porque me convenci (com certo esforço) que valia o investimento. Aos poucos, talvez por causa de toda aquela insistência - nem sempre diária, mas constante - comecei a receber leves retornos: um sorriso; um gesto de carinho aqui, outro ali; alguns cuidados... Que criatura imperfeitamente incrível aquela! Tão complexa, tão intensa, tão cheia de coisas maravilhosas! Como foi que não percebi antes? Como pude ser tão cega? Logo eu! Ontem, antes de dormir, escrevi-lhe uma mensagem simples, só para lembrar-lhe quem habitou meu último pensamento antes de fechar os olhos: “Boa noite. Durma bem. Amanhã o d...

Demorou um tempo para que eu percebesse que meus desejos não eram comuns a todas as pessoas da minha idade, nem quando crianças e nem depois de crescida (o pouco que cresci). Morria de vontade de quebrar o braço ou a perna; ou os dois. Queria usar aparelho nos dentes. Queria ser uma daquelas crianças que estão sempre internadas em hospitais. Nos meus teatrinhos particulares, meu par romântico era sempre um cara difícil, meu romance era sempre digno do horário nobre da rede globo. Mesmo nas minhas brincadeiras e fantasias eu pedia por coisas difíceis, sofridas. Mas duradouras. A psicologia tem varias explicações para isso. Mas a verdade é que por muito tempo eu acreditei que pra ser conto de fada, a princesa tem que passar por longas provações. O drama faz parte de toda boa história. Você apareceu, e eu fiquei decepcionada. Não havia drama suficiente. Que história sem graça. A primeira coisa que percebi foi que as histórias não dão certo só no último episódio. A mocinha não é re...

Texto escrito em 19 de março de 2018. Consegui passar no exame em 25 de abril de 2018. Tava pensando aqui sozinha, deitada na cama e olhando pro teto. Vez por outra uma lágrima rola rosto abaixo. De felicidade. Clichê, sim. Quem liga?! Resolvi dividir o que to pensando, vai que ajuda alguém. Tô tentando tirar habilitação de carro. Comecei o processo todo em novembro. Já foram dois exames de rua que não deram certo (será?). Hoje acordei cedo pra fazer a penúltima aula prática antes do meu terceiro exame de rua (que vai ser na quarta feira). A frustração por não passar é gigante (pra você foi/ é também?). Já quis desistir um milhão de vezes. Mas já cheguei até aqui, vou continuar! [sei e concordo com todas as opiniões a respeito de tirar carteira pra dirigir. Todas mesmo. Essa mesma que você tem aí. ] Mas, me dei conta agora (depois de fazer uma aula muito boa) que o processo é tão gratificante quanto a conquista final. Tô com um tempo sobrando pra gastar nesse pro...

Texto escrito em aproximadamente maio de 2016: Começarei fazendo uma pergunta a vocês, colegas: vocês se lembram do dia ou, dos dias, em que desejaram conquistar o que estamos conquistando hoje? Peço que apenas pensem nessa pergunta, em silêncio. Nesses cinco anos de convivência tivemos muitos momentos de felicidade, de agonia, de tristeza, de decepção, de frustração, de festas e confraternizações. Em poucos momentos destes a turma toda esteve presente dividindo tais sentimentos. Contudo, não quer dizer que todos nós não tenhamos passado por todos eles, apenas quer dizer que, a turma se dividiu e se re-organizou várias e várias vezes. Fomos melhores amigos de alguns e por causalidades inomináveis deixamos de ser; nos tornamos amigos de outros que nunca imaginamos que nos tornaríamos. Encontramos vários ombros amigos por esse caminho. Encontramos vários braços e olhares que nos abraçaram. Encontramos também sermões e puxões de orelha sempre que era necessário. Seria ingenuidade ...

O primeiro significado de “fracasso” no dicionário Aurélio é “ estrondo de coisa que se parte ou cai”. Somente depois vem as palavras: mau resultado; ruina; desgraça. O dicionário não poderia ter definido melhor uma palavra, porque a sensação que eu tenho agora é que boa parte de mim está espatifada no chão, e meus ouvidos ainda estão zumbindo pelo estrondo provocado pela queda. Somente agora me dei conta de que NUNCA havia fracassado no quesito que fracassei hoje. Faculdade, estágios, trabalho: tentei e consegui, sempre de primeira. Este texto é um pedido de desculpas para todas as pessoas que, em algum momento da vida, eu já aconselhei ou consolei ao tentarei algo e não conseguirem. Me desculpem pelas palavras motivacionais vazias, pelos discursos do tipo “você consegue! Tenta de novo!”. Eu não sabia de fato do que vocês estavam falando. Eu não sabia o tamanho do vazio, da frustração e do desalento que se sente ao tentar e falhar. Eu não fazia ideia. Como se continua depo...

Algumas vezes você me coloca no colo sem eu pedir, sem eu nem saber que preciso. E estando lá, você me explica detalhadamente, em pouquíssimos minutos – parecerá contraditório para quem nunca teve seus sentimentos explicados e amplamente compreendidos pelo olhar de uma pessoa que o ama – como as coisas podem ser mais simples e leves. E ao me explicar eu percebo que você me vê: apesar do que eu te digo, do que eu faço e do que eu penso ser. Nesses momentos eu sinto que posso conseguir absolutamente tudo. Nesses momentos eu sei que já consegui “a coisa” mais rara e mais cobiçada dentre todas as coisas raras e cobiçadas que desejo. Nesses momentos não me falta mais nada! PS.: Obrigada por sempre. Te amo. Não vou deixar o medo falar mais alto.

Toninha, meu amor, Estou certo de que você não se admirará em saber que preferi esperar que a mesma lua que cativou seu olhar me fizesse companhia no momento em que eu lhe escrevesse. Preciso lhe dizer que a saudade tem divido a cama comigo todos os dias, mas nossas fotografias, cartas antigas e o perfume que você me deu no nosso último aniversário de namoro me abraçam até que o sono me carregue para àquele nosso lugar sagrado, onde ainda estamos juntos. E aqui, sentado sob o luar, me ocorreu que não precisava ter esperado pela lua para lhe escrever, pois ela já era minha companheira desde o momento em que você me mandou-a de presente, por meio do seu olhar, pelo amor contido na sua descrição. Existe maneira mais bonita de conhecer algo, se não através do amor, Toninha? Sempre seu, Joaquim.

Querido Joaquim, Estava voltando de uma viajem que fiz até a cidade vizinha, e na metade do caminho reparei na lua. Não há palavras para descrever a beleza e imponência daquela lua, que mesmo estando em um horizonte tão, tão distante, me fez companhia em todo o restante da viajem. Tentei tirar algumas fotos, somente para perceber que não era possível capturar toda aquela beleza pela lente do celular, provavelmente por lente nenhuma, que não fossem os meus próprios olhos. Joaquim, me senti tão pequena, tão inútil. Então me dei conta de que absolutamente nada é possível de ser capturado na sua real beleza e dimensão. Nenhuma partícula do que vejo, sinto e ouço poderia ser registrado da exata maneira que as percebi. E a tristeza que senti minutos antes, abriu espaço para um sentimento muito mais libertador e fluido, um sentimento que me fez perceber, Joaquim, que a única maneira de realmente registrar algo é vivendo. Com amor,  Toninha.

O tempo passa. E essa é a melhor coisa que ele pode fazer. Ela já tinha uns 18 anos (mesmo que sua data de nascimento insistisse em dizer que ela só tinha 13); naquela época sua altura era o maior sinal do seu tamanho; a pele dela não passou por grandes “erupções”, como a pele da maioria das meninas; seu cabelo só ficava mais ou menos ruim quando ela teimava em dormir com ele molhado; e os garotos, bom, digamos apenas que os garotos já sabiam da sua existência. Uma professora nossa disse uma vez que ela era uma das meninas mais bonitas da turma (ou a mais bonita), mas que ela era muito desleixada. Mas os anos passaram. Os 13. Os 18. E mais alguns. Hoje, dormir com o cabelo molhado é o menor ato de teimosia que ela pratica. Teimar em conseguir tudo o que ela sonha se tornou uma “rebeldia” mais instigante. E ela consegue. Se você lhe perguntar ela dirá que tudo o que conseguiu até hoje foi graças a Deus, que ele cuida e guia-a a todo instante. Mas eu sei que TUDO o que ela ...

PS.: Uma amiga me falou uma vez que eu levo, no mínimo, três dias para dizer o que está me afetando. Não poderia concordar mais. Eu penso em você. O tempo todo. Sexta feira não foi diferente. Pensei em você o dia todo. Aconteceu uma coisa tão boa e eu só pensava em te ligar pra contar, pra ouvir sua voz me dizendo o quanto eu merecia aquilo e que você sempre soube que iria dar tudo certo. Cê sabe o quanto os “causos” do dia a dia me marcam né?! Adoro registrar esses diálogos que parecem plagiados daqueles filmes que você vive dizendo que “ninguém tem esse tipo de conversa”. Acho que nunca te falei isso, mas sempre pensei que “esse tipo de conversa” só parece coisa de filme porque a gente sabe que tem um roteiro e um propósito por trás. Tá bom, cê me conhece, adoro um bom diálogo, principalmente quando ele tem poucas palavras, mas elas não deixam espaço para mais nada, como em “Closer”. Deve ser por isso que adoro “esse tipo de conversa”. Das tantas vezes que pensei em vo...

Há exatamente 10 meses e 09 dias, por volta das 21:30h, estava sentada no mesmo lugar que estou agora, olhando pela janela e pensando “Vai ser um longo ano, e vai ser maravilhoso, o melhor de todos! ” . Estou aqui sentada há algum tempo e não consigo fazer minhas malas, mesmo sabendo que em menos de 12 horas estarei voltando para casa, casa que eu jurei que só retornaria para visitas. Este texto não é sobre desesperança. É exatamente o contrário: Ao final de maio de 2011 eu tive absoluta certeza de que não havia futuro para mim na UFV. Eu sentia, em cada molécula do meu corpo que eu precisava correr atrás dos meus sonhos e de quem eu realmente queria ser. O que é nosso não bate na porta, precisamos sair e convidar nossos sonhos para jantar! Em junho de 2011 fui pela última vez na UFV para pegar minha carta de alforria. Estava finalmente livre de quaisquer amarras. Em novembro de 2011 meu irmão me ligou me dizendo que eu tinha passado no vestibular de Psicologia do Unipam, ...

“Tenho uma teoria. A minha teoria é sobre momentos. Momentos de impacto. Minha teoria é que esses momentos de impacto, esses flashes de realidade que nos reviram, acabam definindo quem somos” (Filme The Vow, 2012). Há quatorze dias meu telefone tocou quando eu havia acabado de chegar na faculdade (atrasada, porque tinha sido um daqueles dias em que eu não senti vontade de sair da cama), do outro lado da linha, minha mãe dizia que meu tio sofrera um acidente de moto e havia tido uma batida forte na cabeça. Tio esse que já passou por vários momentos de impacto, muitos deles causados por si próprio. E, então, em um momento de calmaria, quando tudo estava em ordem, ele é arremessado de seu caminho, dos seus planos para terminar aquele dia, aquela semana – espero que ele ainda possa retomar os planos para a vida. Hoje, quatorze dias depois, o mundo inteiro foi abalado pela notícia de um acidente de avião: 76 sonhos interrompidos; 76 vozes caladas; 76 fins prematuros. Momentos...