Carta de um portador de Alzheimer à sua esposa, Leninha
“Leninha, meu amor, Escrevo-te esta carta, mas a única viagem que ela fará, será da minha mão para a tua. Escrevo-te porque vais precisar de a ler muitas vezes, e eu também vou precisar que a leias. Não é à toa que me esqueço constantemente das coisas, não é à toa que de um momento para o outro a minha personalidade muda, não é à toa que por vezes o meu discurso não faz sentido. Mas que Deus me ajude a terminar esta carta, pelo menos esta carta, sem que a memória se vá embora e me deixe perdido a olhar para esta folha. Hoje sei que em breve não saberei quem sou, disseram-me os médicos. Tenho alzheimer. Deixarei de viver antes do dia da minha morte, a vida escolheu-me para ter este fim, mas antes disso, escolheu-me para ser o marido mais feliz do mundo, o pai mais feliz do mundo, e por isso não consigo ficar desiludido com ela. Aceito, só posso aceitar. Não fiques triste por mim, meu amor, pois eu não irei sofrer, não me irei lembrar sequer da dor. Os nossos filhos est...