Para a Paula do futuro
Há
exatamente 10 meses e 09 dias, por volta das 21:30h, estava sentada no mesmo
lugar que estou agora, olhando pela janela e pensando “Vai ser um longo ano, e
vai ser maravilhoso, o melhor de todos! ” .
Estou
aqui sentada há algum tempo e não consigo fazer minhas malas, mesmo sabendo que
em menos de 12 horas estarei voltando para casa, casa que eu jurei que só
retornaria para visitas.
Este
texto não é sobre desesperança. É exatamente o contrário:
Ao
final de maio de 2011 eu tive absoluta certeza de que não havia futuro para mim
na UFV. Eu sentia, em cada molécula do meu corpo que eu precisava correr atrás dos
meus sonhos e de quem eu realmente queria ser. O que é nosso não bate na porta,
precisamos sair e convidar nossos sonhos para jantar!
Em
junho de 2011 fui pela última vez na UFV para pegar minha carta de alforria. Estava
finalmente livre de quaisquer amarras.
Em
novembro de 2011 meu irmão me ligou me dizendo que eu tinha passado no
vestibular de Psicologia do Unipam, em 11º
lugar. Não era a faculdade que eu sonhava. Não era a colocação que eu gostaria.
Mas era “o curso”. Era a realização de um sonho.
Sonho este que eu tive certeza desde o primeiro
momento que não seria fácil de concluir, mas também não imaginava que eu
passaria por tantas experiências, momentos e aprendizados. A psicologia – descobri
meses mais tarde – era um iceberg, o qual eu não vi a parte emergida ainda.
Em fevereiro de 2012 pisei, pela primeira vez na sala
303 (se não me engano), terceiro piso, do bloco D de Psicologia do Unipam. Ainda
consigo lembrar o arrepio que senti quando olhei para a minha turma e senti que
pertencia àquele lugar.
Ao final de 2012 o deslumbramento ainda era enorme. A faculdade
parecia grande demais e andar por aqueles corredores era como percorrer um
labirinto.
Ao final de 2013, eu evitava pensar em como seriam os
anos de 2015 e 2016, anos dos estágios que requerem mais disponibilidade de
tempo.
O cansaço – de trabalhar o dia todo, pegar o ônibus às
17:00, chegar à faculdade às 19:00 e chegar em casa novamente às 00:45 –, era considerável.
O escritório consumia grande parte da minha energia e a energia que sobrava não
era o suficiente para eu conseguir prestar muita atenção às aulas ou para
estudar o suficiente aos finais de semana.
Percebi que me mudar para Patos seria a única alternativa
para conseguir me dedicar à faculdade como deveria (e como eu gostaria).
2014 me trouxe um anjo, pontualmente, não sei se teria
conseguido chegar aqui sem ele.
Ao final de outubro de 2014, eu tinha certeza que
precisava me mudar para Patos, e já possuía um emprego em vista. A entrevista
seria nas férias. Iria dividir apartamento com uma amiga da faculdade. Estava tudo
correndo como o planejado.
No dia 26 de dezembro de 2014, por volta das 21:00h,
minha mãe foi vítima de um acidente de carro e quebrou 5 costelas. Na madrugada
do dia 26 de dezembro, enquanto minha mãe gemia de dor, eu soube onde eu
deveria estar no próximo ano.
Não fui à entrevista de emprego. Minha amiga conseguiu
outra menina para dividir o apartamento com ela.
Ao voltar para as aulas em 2015, eu não tinha nenhum
plano para conseguir entrar no estágio que eu gostaria de fazer no segundo
semestre. Eu não tinha nenhuma ideia de como cumprir os estágios do próximo ano
também.
Matar as aulas para chorar escondida no banheiro da
faculdade e, às vezes, nos corredores, era algo bastante comum.
Passei na entrevista do estágio que eu queria para o
segundo semestre de 2015 e consegui que minha patroa me liberasse um dia na
semana (descontando os dias do meu mês de férias) para que eu pudesse vir para
Patos cumprir o estágio.
Sobrou 5 dias das minhas férias.
Foram os meses mais sofridos desde que eu havia saído da
UFV. Não conseguia entender o mal-estar no estágio e nem tantas cobranças no
escritório.
Em agosto de 2015, em um dos dias sagrados, eu tive a
ideia que salvaria minha faculdade.
Me demitiria do escritório, colocaria todo o dinheiro
do acerto trabalhista em uma poupança no banco e me mudaria para Patos em 2016.
Precisaria de uma ajuda financeira para complementar minhas economias, mas eu
daria um jeito nisso.
Em novembro de 2015 eu tive certeza que meu plano
daria certo, se nada inesperado acontecesse.
E há exatamente 10 meses e 9 dias meu plano se
concretizou.
Eu achei que se conseguisse me mudar para Patos e não
precisasse trabalhar, meu ano seria ótimo, meus estudos seriam feitos da forma
como eu sempre quis e eu conseguiria me dedicar como nunca à faculdade.
Foi o ano mais difícil da minha vida.
Eu não contei com o cansaço acumulado de 7 anos de
trabalho no escritório, os quais 5 deles foram passados tentando conciliar a
faculdade.
Eu achei que me mudar para Patos e parar de trabalhar
me libertaria de todo o cansaço acumulado.
Ainda assim, fiz os estágios que eu gostaria, todos
eles.
Não fui a aluna ou a estagiária que eu achei que me
tornaria.
Passei o ano todo no modo “economia de energia”, pois
era minha única chance de conseguir terminar a faculdade.
Aproveitei cada oportunidade ao máximo. Cada momento
da melhor forma possível.
Mas sei que o que consegui fazer não foi o suficiente
para fazer de mim alguém minimamente seguro para exercer a Psicologia
profissionalmente.
Reafirmo, este não é um texto sobre desesperança.
Eis o porquê.
Se eu pudesse voltar até 2012 e dizer àquela menina
deslumbrada que aqueles seriam os 5 anos mais difíceis da sua vida, eu voltaria
e diria a ela que seu diploma seria conquistado mesmo assim.
Se eu pudesse voltar e dizer àquela menina assustada
que reinou em mim em 2014 e 2015 que ela conseguiria fazer TODOS os estágios os
quais ela sonhava, e que ela teria não apenas orientadores ou professores, mas
seres extremamente humanos acompanhando-a, eu diria, todos os dias, para que
ela não esquecesse.
E é por isso que eu sei que daqui algum tempo, a Paula
do futuro vai ter muita vontade de voltar até 2016 e dizer a essa versão
exausta e impaciente que tudo vai dar certo, que os meus sonhos só estão
começando a se realizar, que voltar para casa não é um retrocesso, que eu ainda
encontrarei muitas pessoas humanas pelo meu caminho dispostas a me auxiliar, e
que os anjos vão continuar aparecendo assim como apareceram em 2014, 2015,
2016...
É por ao olhar para traz e ver tudo o que já consegui
até aqui, que eu sigo confiante.
E é por isso que este texto é sobre esperança. Sobre
aceitar o hoje e confiar no amanhã.

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