Sobre simplicidade

O escritório que eu trabalho fica em frente à pista de caminhada (oficial) da minha cidade. Sinto-me frustrada, pois fico aqui, sentada na minha mesa, em frente ao meu computador, enquanto observo as pessoas fazendo caminhada, correndo, e eu, sedentária como sempre. Caminho na pista, em direção a minha casa (e da minha casa em direção ao escritório) durante aproximadamente 40 minutos por dia. Mas não é a mesma coisa.
Sinto-me grata pela oportunidade que tenho de ver tantas pessoas passando pela pista, todos os dias. São casais. São jovens. Pais passeando com seus filhos. Adolescentes passeando com seus cachorros. Crianças andando de bicicleta.
Não conheço a maioria das pessoas que passam ali. E essa é a melhor parte. Dessa forma, posso imaginar quais são suas histórias, como elas chegaram até ali. Porque aquela senhora esperou engordar tanto para só então começar a se exercitar? Porque aquele casal caminha de mãos dadas? (deve ser desconfortável).
Hoje tive a sorte de ver um casal de idosos passeando de mãos dadas. Eles não caminhavam, eles passeavam. No sentido mais bonito da palavra. Fiquei imaginando como eles se conheceram. Quem tomou a iniciativa de falar com o outro. Ou será que foi um daqueles casamentos arranjados pelas famílias? Há 40, 50 anos atrás ainda existia tais casamentos? Como foi o primeiro beijo? Quando foi que ela descobriu que ele não era um príncipe? Ou será que ela sempre soube? E quando foi que ele percebeu que ela não era a garota mais bonita da cidade? Ou será que isso nunca foi algo com que ele tenha se preocupado?
Há quantos anos eles passeiam juntos pela vida? Por mais quantos anos passearão de mãos dadas? Por quantas pessoas eles já passaram neste longo passeio?

São perguntas sem respostas. E não faz diferença. Talvez nunca mais os perceba ali. Talvez um dia veja um deles passeando sozinho e me perguntarei novamente, em vão, o que isso quer dizer.


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