Mãe!


Toda vez que eu falo de amor, a primeira pessoa que vem na minha memória é minha mãe.
Ela faz parte do meu currículo e, costumo dizer que ela é o melhor livro que já li na minha vida.
(...) Eu não tenho dificuldades para andar, ela tem. Se eu quiser tê-la ao meu lado, andando comigo, terei que esquecer um pouco as minhas habilidades, tenho que diminuir o passo.
Ah, meu Deus... ela tem a mania de repetir as historias que me conta, varias vezes, mas, eis que eu descubro uma mística naquela repetição: já que as palavras sei de cor, então, presto atenção nos gestos... fico olhando a maneira como ela desenha as mãos no ar, como ela inventa vozes de personagens; fico prestando atenção na tessitura de cada detalhe do seu jeito de contar historias. Fico tentando decorar os seus gestos, porque quero guardar dentro de mim o que dessa matéria humana, um dia, vai embora.
(...) e aquela voz que, agora repete as historias é o primeiro vínculo que eu tive com o mundo. Então fico pensando “até quando eu terei a chance de ter essa memória viva diante de mim? Até quando eu terei a oportunidade de olhar para a casa onde eu fui feito? Até quando terei a oportunidade de ter diante dos meus olhos, a grandeza dessa mulher? Até quando os meus olhos poderão saber por onde ela anda, descobrir as coisas que ela esquece pela casa?”
Eu não sei quanto tempo tenho; e porque não sei, escolho que a melhor forma de viver este tempo presente é amando, é vivendo este espaço onde eu posso dividir com ela as minhas habilidades com as suas impossibilidades, este tempo em que nós nos misturamos um no outro, este tempo em que a vida me permite olhar para ela para decorar cada detalhe deste ser que é, sem dúvida – sem medo de ser injusto com todos os que já passaram pela minha vida – a pessoa que mais deixou marcas em meu coração.
Descubro que eu tenho a oportunidade de dar a ela minha melhor parte, já que não sei quanto tempo tenho. Eu tenho muito medo de descobrir o valor das pessoas depois que elas vão embora; eu aprendo que o amor é agora.


Por Padre Fabio de Melo.

Comentários

Janaine Alves disse…
Perfeitoooo!!! Pensei que vc que tinha escrito esse texto, parece a mesmo estilo que vc usa, portanto parabéns, vc arrasou como sempre... Adoro-te gata!!! =D
Paula Meireles disse…
Quem me dera escrever bem assim! Mas valeu hahha.... sz'

Postagens mais visitadas deste blog

Cotidiano

Por Caio F. de Abreu